terça-feira, 6 de abril de 2010

OLIMPIADA DE LÍNGUA PORTUGUESA 2010 - OFICINAS PARA 4o e 5o anos

Adaptação feita pelo professor ISAC MACHADO DE MOURA, do caderno POETAS DA ESCOLA, da OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA 2010.


POETAS, POEMAS E POESIA


Os poetas escrevem para emocionar, divertir, convencer, fazer pensar o mundo de um jeito novo. Para isso usam diferentes recursos, como rimas, repetições, metáforas e até mesmo formas diferentes de colocar as palavras no papel. Tudo para transmitir ideias, experiências e emoções ao leitor.
O poeta pode jogar com a sonoridade, rimando as palavras, repetindo sons parecidos nos versos, fazendo com que eles ecoem ao longo do texto.
O POEMA é caracterizado por dois aspectos fundamentais: a maneira original de os poetas verem as coisas, que encanta e emociona o leitor, e o uso das palavras de forma especial, de modo diferente do habitual.

Segundo Marisa Lajolo, especialista em literatura:

“... poeta brinca com as palavras... parece que o poeta diz o que a gente nunca tinha pensado em dizer...”
“... um poema é um jogo com a linguagem. Compõe-se de palavras: palavras soltas, palavras empilhadas, palavras em fila, palavras em ritmo diferente da fala do dia a dia. Além de diferentes pela sonoridade e pela disposição na página, os poemas representam uma maneira original de ver o mundo, de dizer coisas...”
“... poeta é, assim, quem descobre e faz poesia a respeito de tudo: de gente, de bicho, de planta, de coisas do dia a dia da vida da gente, de um brinquedo, de pessoas que parecem com pessoa que conhecemos, de episódios que nunca imaginamos que poderiam acontecer e até a própria poesia!...”

POEMA E POESIA

POESIA é a “arte de criar imagens, de sugerir emoções por meio de uma linguagem em que se combinam sons, ritmos e significados.” POEMA é a obra em verso ou não em que há poesia.” (Miniaurélio – sec. XXI).
Quando falamos em POEMA, estamos falando da OBRA, do próprio texto; e quando falamos em POESIA, estamos tratando da arte, da habilidade de tornar algo poético. Uma pintura, uma música, uma cena de filme também podem ser poéticos.

OFICINA 1 – MURAL DE POEMAS

• Planejar o mural de poemas;
• Resgatar a experiência dos alunos com poemas;
• Reconhecer os poemas em suas diversas formas.

ROTEIRO DE ATIVIDADES

1. Cada aluno deverá levar algum poema para a sala de aula; pode ser dos autores clássicos, da música popular, de pessoas da comunidade...

2. Organizar e executar um recital na sala;

3. Confecção de um mural com os poemas apresentados. É legal caprichar na apresentação: o papel onde os poemas serão impressos pode ser colorido; os alunos devem fazer margem nas folhas. Enfim, é preciso caprichar no visual do mural para torná-lo atrativo.


OFICINA 2 – O QUE FAZ UM POEMA

• Conhecer as características do poema: rimas, versos, estrofes.

PROVOCAÇÕES

1. Por que o poema é diferente de uma notícia de jornal, de uma receita de bolo ou de um conto?
2. Como os poemas se organizam no papel? Eles preenchem todo o espaço das linhas, da margem esquerda à direita?
3. Os versos pulam linhas?
4. De que tratam os poemas do mural?

TEM TUDO A VER
(Elias José)

A poesia
Tem tudo a ver
Com tua dor e alegrias,
Com as cores, as formas, os cheiros,
Os sabores e a música do mundo.

A poesia
Tem tudo a ver
Com o sorriso da criança,
O diálogo dos namorados,
As lágrimas diante da morte,
Os olhos pedindo pão.

A poesia
Tem tudo a ver
Com a plumagem, o voo,
E o canto dos pássaros,
A veloz acrobacia dos peixes,
As cores todas do arco-íris,
O ritmo dos rios e cachoeiras,
O brilho da lua, do sol e das estrelas,
a explosão em verde, em flores e frutos.

A poesia
- é só abrir os olhos e ver –
Tem tudo a ver / com tudo.

POESIA: uma lente para ver o mundo

Nesse poema, o autor mostra que a poesia é viva, dinâmica, e fala de pessoas, de animais, de objetos, de acontecimentos, de tudo. Muita gente acha que a função da poesia é cantar amores ou falar do que é belo. Mas seus alunos precisam entender que, na verdade, a poesia coloca em palavras a maneira como o poeta enxerga o mundo. E ela pode falar de qualquer coisa, não só das grandes e belas.

PROVOCAÇÕES

1. Sobre o que fala o poema de Elias José?
2. Por que o autor diz que “poesia tem tudo a ver com tudo”?
3. O que os poemas podem exprimir?
4. O poema tem que ter rimas?
5. Quantos versos e quantas estrofes têm o poema?

O QUE RIMA COMBINA

Palavras que rimam são palavras que se combinam, pois terminam com o mesmo som. A rima é um dos recursos que os poetas usam, mas nem todo poema precisa ser rimado.
Antigamente, havia normas para escrever versos. O poeta tinha regras definidas sobre as rimas e o número de sílabas de cada verso. Mas hoje já não é assim. O autor tem liberdade para seguir ou não essas regras.

VERSOS E ESTROFES

VERSO é cada uma das linhas do poema. ESTROFE é cada grupo de versos separados do grupo seguinte por um espaço. Um poema pode ter uma ou várias estrofes. E cada estrofe, um número variado de versos.


OFICINA 3 – PRIMEIRO ENSAIO

• Produção de um poema.

SÓ PARA LEMBRAR...

• Cada situação de produção textual varia, pois depende de quem escreve (o autor do texto), para quem escreve (os leitores do texto), com que finalidade escreve (divertir o leitor ou convencê-lo de alguma ideia) e, finalmente, onde será publicado (jornal, livro, revista, internet).

• Agora, os alunos serão POETAS, aqueles que escrevem para mostrar o mundo de um jeito novo, com o intuito de emocionar, fazer pensar ou divertir os leitores.

PRIMEIRA ESCRITA

A produção inicial aponta o que os alunos sabem sobre o gênero e dá pistas para que o professor possa melhor intervir no processo de aprendizagem. Esse primeiro texto também é importante para que os alunos avaliem a própria escrita. Com sua ajuda, professor, eles podem perceber o que é preciso melhorar e poderão envolver-se mais nas atividades das oficinas.


OFICINA 4 – MEMÓRIA DE VERSOS

• Resgatar e valorizar a cultura da comunidade.

CANTADOR (de sentimentos escondidos)
(Antonio Gil Neto)

Esta pequena história foi contada por meus bisavós, que contaram aos meus avós, que por sua vez, recontaram aos meus pais, que me contaram de novo... Agora a conto a você. Era um tempo em que Alvorada do Norte era uma cidade pequena e próspera. Vivia seus dias de trabalho e mansidão alternados, como se alternam os dias e as noites, o sol e a lua, a chuva e o vento.
O que aconteceu é que naquele belo dia a cidadezinha amanheceu de um jeito um tanto diferente. Uns minutinhos antes das dezenas de galos soltarem seus cocoricós costumeiros, as pessoas da minha cidade, ainda abraçadas a seus travesseiros ou mesmo de pé, no preparo da labuta do dia, ouviram algo diferente adrentando por portas e janelas ainda fechadas: “Acorda, Maria Bonita / Levanta, vai fazer o café / que o dia já vem raiando / e a polícia já está de pé...”
Mais ou menos no ritmo de um leve susto e do escuro se encontrar com o claro daquela manhã, os alvoradenses foram se dando conta do que acontecia: “Meu coração / não sei por quê / bate feliz / quando te vê / E os meus olhos ficam sorrindo / E pelas ruas / Vão te seguindo / Mas mesmo assim / foges de mim...”
Vou contar logo, porque não é fácil de explicar. Pelas ruas poucas da cidade passava naquele dia, como aparição, miragem, encomenda, um presente dos deuses. Era um jovem cantador. O que mais sei do que me foi dito é que ele apenas falava bem falado, cantava pelo ar palavras bem bonitas que deixavam todo mundo encantado, curioso, incomodado. Umas pessoas riam, outras se embeveciam e ainda outras experimentavam emoções pouco sentidas. Logo que alguém abria a janela, soltava: “Menina, minha menina / faz favor de entrar na roda / cante um verso bem bonito / diga adeus e vá-se embora...”
Vez por outra ele surpreendia seu cantar misturando-o com um achado pelo caminho. Rodopiando e declamando, cheirava solenemente uma flor e a entregava ao seu ouvinte – especialmente se fosse uma bela garota – como um adereço. Eu só sei que ele andou e voltou várias vezes pelas ruelas principais entoando com cerimônias de gesto e voz algumas preciosas palavras que tocaram de perto o sentimento das crianças, dos jovens e dos adultos. E depois, sem passe de mágica, nem mais, nem menos, sem dizer adeus a ninguém, ele foi embora: “Adeus, amor, eu vou partir / ouço ao longe um clarim...”
Desapareceu pelo ziguezague das estradas, com seu maracatu de corpo. Acho que ele foi encantar outros corações em outros lugares, penso eu...
O que sei, com certeza, é que até hoje, quando escuto um barulho diferente na minha rua, que já não é a mesma de outrora, seja de vento leve na folhagem, passarinho querendo fazer ninho ou até mesmo de alegria inventada, levanto bem de mansinho e espreito na minha janela para ver o cantador de palavras bonitas passar.


SÓ PARA LEMBRAR

Segundo o dicionário, poético não se refere apenas a poemas (texto em verso), mas a tudo aquilo que “produz inspiração, que tem qualidade, atmosfera, encanto, ou características da poesia.” O texto que acabamos de ler está escrito em prosa (jeito natural de escrever), é um conto, e é poético, pois traz encanto, produz inspiração.

PROPOSTAS DE ATIVIDADES

1. Se houver algum poeta na comunidade, convida-lo para fazer uma palestra, participar de uma oficina ou, simplesmente, conversar com os alunos e apresentar algumas de suas poesias.

2. Seria bem interessante se promover um recital diferente em que os alunos circulassem pela escola, entrassem nas salas de aula (acordo prévio com os professores), recitando poemas deles mesmos ou de outros autores, inclusive letras de música.


OFICINA 5 – UM OUTRO SARAU

• Agora, o objetivo é trabalhar com poetas brasileiros consagrados;
• É legal fazer cópias para todos, fazer um ensaio geral de declamação e depois cada um se apresentar na frente, declamando com vontade, impostação, gestos.

OBS.: Se a turma for muito grande, a apresentação pode ser definida através de sorteiro ou de voluntários.

• Podemos fazer um novo sarau, agora na quadra, no recreio, de uma forma inesperada e envolvente.

BUSCANDO SENTIDO

Já não podemos pensar o ensino da escrita desconectado da leitura. Para ler um texto não basta identificar as letras, sílabas e palavras, é preciso buscar o sentido, compreender, interpretar, relacionar e reter o que for mais relevante.
Quando lemos alguma coisa, temos sempre um objetivo: buscar informação, ampliar conhecimento, meditar, entreter-nos. O objetivo da leitura é mobilizar as estratégias que o leitor vai utilizar. Sendo assim, ler um artigo de jornal é diferente de ler um romance, uma história em quadrinho ou um poema.
Geralmente, quando lemos um poema, temos como objetivo o entretenimento, a busca do encantamento com a forma original e diferente que os poetas têm de ver o mundo. Diferentemente de outros gêneros de texto, um poema pode ser lido muitas vezes, e a cada leitura despertar uma nova emoção, novas ideias, novas sensações
Por outro lado, ler poemas traz desafios para o leitor. É preciso buscar significados, sentidos, descobrir como o poeta “brincou com as palavras”. Nossos alunos, na maioria das vezes, não têm familiaridade com a leitura de poemas. Assim, é tarefa nossa ajudá-los a vencer esse desafio.

ALGUMAS DICAS PARA A LEITURA DE POEMAS

1. Ler em voz alta, pois para apreciarmos devidamente um poema é preciso escutá-lo.

2. Poemas têm sensações, impressões, sentimentos. Vamos descobrir o que o poema lido desperta em cada um de nós. O poema nos faz pensar em coisas alegres ou tristes?

3. Poetas têm um olhar único e original sobre um acontecimento, seus sentimentos, as belezas do lugar onde vive, mas muitas vezes nos identificamos com aquilo que está no poema.

4. Para encontrar o ritmo certo para a declamação, é preciso compreender os efeitos de sonoridade que o poeta usou.

5. Uma dica bem legal é ouvirmos, juntos, CDs com poemas declamados por atores famosos.


OFICINA 6 – RIMANDO

DUAS DÚZIAS DE COISINHAS À TOA QUE DEIXAM A GENTE FELIZ – Otavio Roth

Passarinho na janela, pijama de flanela, brigadeiro na panela.
Gato andando no telhado, cheirinho de mato molhado, disco antigo sem chiado.
Pão quentinho de manhã, dropes de hortelã, grito do Tarzan.
Tirar a sorte no osso, jogar pedrinha no poço, um cachecol no pescoço.
Papagaio que conversa, pisar em tapete persa, eu te amo e vice-versa.
Vaga-lume aceso na mão, dias quentes de verão, descer pelo corrimão.
Almoço de domingo, revoada de flamingo, herói que fuma cachimbo.
Anãozinho de jardim, lacinho de cetim, terminar o livro assim.

DICAS E ATIVIDADES

1. Podemos recorrer à memória e ao dicionário para encontrar palavras que normalmente não usamos, mas que podem deixar nosso texto mais bonito.

2. Vamos produzir um texto em verso sobre umas “coisinhas “a toa”, sobre alguém que observamos diariamente ou com quem tivemos um único contato visual, mas que nos impressionou. Vamos chamar a atividade de “quando a rotina vira poesia”. Podemos escrever, então, sobre o padeiro do bairro, o motorista do ônibus, o porteiro da escola, o moço da praça, a garota da locadora e muito mais.

3. outra proposta de produção (também em verso) é “umas coisinhas à toa que me deixam feliz.”

4. Ainda uma outra sugestão é fazer uma paródia do texto estudado, colocando suas próprias coisinhas, rimando.

OBS.: Não fazer rima com aumentativos e diminutivos.

5. Uma outra proposta é de uma dinâmica bem legal: um aluno diz uma palavra e outros 2 ou 3 colegas dizem outra que rime com a primeira. Todas as palavras vão sendo anotadas no quadro. Quanto mais raras forem as palavras, melhor. Terminada essa etapa, cada aluno (também pode ser em dupla ou trio) produz um texto utilizando a maior parte das palavras anotadas.


OFICINA 7 – SONS E QUADRAS

• Identificar rima, aliteração e repetição de versos;
• Criar quadras.

Para encantar os leitores, transmitir ideias e emoções de forma original, os poetas utilizam recursos poéticos, como: rimas, aliterações e repetições.

QUADRAS

São estrofes compostas por 4 versos. É uma forma antiga e popular de poesia usada pelo povo português desde a idade média, e ainda hoje, no Brasil.
Você lembra de alguma quadra ou “versinhos”, como chama o povo? Vamos compartilhar. Muitos desses “versinhos” viraram músicas, “cantiga de roda”.

O cravo brigou com a rosa,
Debaixo de uma sacada.
O cravo saiu ferido,
E a rosa despedaçada.


Não sei se vá ou se fique
Não sei se fique ou se vá
Ficando aqui não vou lá
E ainda perco o meu pique.
(Silvio Romero)


Ô seu moço inteligente
Faça o favor de dizer
Em cima daquele morro
Quanto capim pode ter?
(Ricardo Azevedo)

Os versos podem rimar de diferentes formas. Na primeira quadra, recolhida por Silvio Romero, o primeiro verso rima com o quarto (fique / pique) e o segundo verso rima com o terceiro (vá e lá). Já Ricardo Azevedo rima o segundo verso com o quarto (dizer / ter).

Lá no fundo do quintal
Tem um tacho de melado
Quem não sabe cantar verso
É melhor ficar ____________
(Ricardo Azevedo)

Muitas vezes os alunos ficam tão preocupados em encontrar palavras que rimam que até se esquecem de verificar se o verso construído transmite ao leitor uma ideia, um sentimento ou uma sensação. Quando trabalhamos com rima é muito importante que se perceba que não se pode abrir mão do sentido.
Entre os grandes poetas que produziram quadras, está o português Fernando Pessoa, que escreveu mais de quatrocentas. “A quadra é um vaso de flores que o povo pôe à janela da sua alma”, escreveu ele.

QUADRAS AO GOSTO POPULAR – Fernando Pessoa

Eu tenho um colar de pérolas
Enfiado para te dar:
As pérolas são os meus beijos,
O fio é o meu penar.


A caixa que não tem tampa
Fica sempre destapada.
Dá-me um sorriso dos teus
Porque não quero mais nada.


No baile em que dançam todos
Alguém fica sem dançar.
Melhor é não ir ao baile
Do que estar lá sem lá estar.


Vale a pena ser discreto?
Não sei bem se vale a pena.
O melhor é estar quieto
E ter a cara serena.


Não digas mal de ninguém,
Que é de ti que dizes mal.
Quando dizes mal de alguém
Tudo no mundo é igual.


DICAS E ATIVDADES

1. Quais as palavras que rimam e qual o esquema de rima usado por Fernando Pessoa?

2. Observar que o poeta não usa apenas verbos no infinitivo (cantar, dançar, chorar) para fazer as rimas. Ele também não usa palavras no aumentativo e no diminutivo (ão/ inho). Assim, ficaria muito fácil e pouco criativo. Ele rima com palavras variadas: verbos, substantivos e adjetivos.

3. Dividir a turma em duplas ou trios e pedir que produzam algumas quadras criativas.

ALITERAÇÃO

Mostrar aos alunos que existem outras formas de brincar com as palavras. Uma bem interessante é a ALITERAÇÃO, usada, por exemplo, pelo poeta brasileiro Cruz e Souza.
A aliteração consiste na repetição de fonemas nas palavras que compõem os versos.

VIOLÕES QUE CHORAM – Cruz e Souza

Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.


OFICINA 8 – POETA DO POVO

• Escrever acrósticos;
• Trabalhar com poema popular.

Além dos poetas clássicos e modernos, existem os “poetas popuplares”, que compõem versos que encantam e emocionam o leitor, como é o caso do cordel.

Um dos nossos maiores poetas populares se chama PATATIVA DO ASSARÉ. Além de folhetos de cordel, esse poeta tem inúmeros poemas publicados em livros, revistas e jornais.

POEMAS PENDURADOS NO VARAL

CORDEL é um estilo de poema popular da tradição nordestina. Cantado ou declamado, ele está presente nos festejos da comunidade sertaneja: feiras, festas religiosas, comícios. É uma poesia narrativa, ou seja, conta uma história. Geralmente, o tema é o cotidiano, a denúncia dos sofrimentos do povo, a exaltação de heróis, as lendas nativas. Chama-se cordel porque nos pontos de venda, os livretos costumam ser pendurados em um varal de fios de algodão – os cordéis.

EMIGRAÇÃO E AS CONSEQUÊNCIAS - Patativa do Assaré

Neste estilo popular
Nos meus singelos versinhos,
O leitor vai encontrar
Em vez de rosas espinhos
Na minha penosa lida
Conheço do mar da vida
As temerosas tormentas
Eu sou o poeta da roça
Tenho mão calosa e grossa
Do cabo das ferramentas

Por força da natureza
Sou poeta nordestino
Porém só conto a pobreza
Do meu mundo pequenino
Eu não sei contar as glórias
Nem também conto as vitórias
Do herói com seu brasão
Nem o mar com suas águas
Só sei contar minhas mágoas
E as mágoas do meu irmão

..............................................................................
Meu bom Jesus Nazareno
Pela vossa majestade
Fazei que cada pequeno
Que vaga pela cidade
Tenha boa proteção
Tenha em vez de uma prisão
Aquele medonho inferno
Que revolta e desconsola
Bom conforto e boa escola
Um lápis e o caderno.


O poema de Patativa do Assaré conta a história da seca no Nordeste, do sofrimento do povo, das injustiças sociais, da migração para o sul. Fala da luta, do trabalho e do perigo da entrada dos filhos na marginalidade.

ESTILO – Maneira de se expressar de um escritor (estilo individual) ou de um grupo de escritores de determinada época (estilo de época).

TEMA – Principal assunto ou mensagem de um poema (ideia principal).

Qual o tema do texto de Patativa de Assaré?

A POESIA traduz a forma como o poeta vê o mundo, e no mundo também existem coisas tristes. Logo, belos versos também podem falar de sofrimento e dificuldade. Observe com bastante atenção os quatro primeiros versos do texto que estamos estudando.

Neste estilo popular
Nos meus singelos versinhos,
O leitor vai encontrar
Em vez de rosas espinhos

Também é interessante observar que nesse trecho, o autor anuncia o estilo de poesia que ele faz, o popular. Ele avisa aos seus leitores que não encontrarão apenas “rosas” (coisas belas), mas também “espinhos” (tristeza e problemas).


COMO SE FOSSE UM TAMBOR

Muitos poetas querem que seus versos tenham ritmo e cadência, como se houvesse um tambor batendo a intervalos regulares. Patativa conseguiu esse efeito em seu poema. Chame a atenção dos alunos para o ritmo dos versos, mostrando como esse efeito encanta o leitor.

ACRÓSTICO

É um recurso poético em que as letras iniciais dos versos formam uma palavra ou frase na vertical. Muitas vezes, os acrósticos são criados a partir de um nome próprio. Os poetas populares usam bastante o acróstico com seu próprio nome para identificar seus textos. Assim, indicam que os cordéis expostos em espaços públicos, como feiras, são deles.

Posso dizer que cantei
Aquilo que observei
Tenho certeza que dei
Aprovada a relação
Tudo é tristeza e amargura
Indigência e desventura
Veja, leitor, quanto é dura
A seca no meu sertão.


OFICINA 9 – AS METÁFORAS

• Identificar e usar comparações, imagens e metáforas.

Ao ver o mundo de um modo poético, os poetas fazem comparações e criam metáforas.

O LEÃO – Vinícius de Moraes

Leão! Leão! Leão!
Rugindo como o trovão
Deu um pulo, e era uma vez
Um cabritinho montês.

Leão! Leão! Leão!
És o rei da criação!

Tua goela é uma fornalha
Teu salto, uma labareda
Tua garra, uma navalha
Cortando a presa na queda.

No verso “rugindo como o trovão”, o poeta estabelece uma relação de significado entre força, poder e volume de som.

Quando usamos expressões como “é pequeno como...”, “sua garra é afiada como...”, estamos fazendo COMPARAÇÕES.

Quando dizemos que alguém tem “olhos de jabuticaba”, estamos nos referindo aos olhos muito pretos dessa pessoa. Quando dizemos que “choveu canivete”, estamos querendo dizer que choveu muito forte. Nesses casos, estamos usando METÁFORAS.

Metáfora, portanto, é um tipo especial de comparação em que não usamos o comparativo como ou qualquer outro.

Você é como uma linda estrela. – comparação
Você é uma linda estrela. – metáfora

Quando usamos metáforas, falamos de um objeto ou de uma qualidade com palavras que se referem a outros objetos ou qualidades, mas que podem ser tomadas emprestadas para fazer comparação. Assim, quando digo que alguém tem uma saúde de ferro, estou tomando emprestada a força do ferro para dizer que essa pessoa tem uma saúde muito forte.


O céu bordado d’estrelas,
A terra de aroma cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
(Casimiro de Abreu)

1. Como seria o “céu bordado de estrelas”?

2. Qual o sentido dos versos “as ondas beijando a areia” e “a lua beijando o mar”?

O uso de metáforas sempre deixa o verso mais interessante. Se o poeta dissesse simplesmente que “havia muitas estrelas no céu” e “a lua refletia luz no mar”, os versos não seriam tão poéticos.

PROPOSTAS DE ATIVIDADES

1. Paródia do texto “CANTADA”, de Ferreira Gullar, utilizando elementos de nossa cidade e coisas de que gostamos e que admiramos.

2. Fazer uma lista de características (qualidades e defeitos) do lugar onde vivemos. Vamos pensar no rio, no no mar, no Parque da Preguiça, numa praça, em uma árvore, enfim, em algum lugar da cidade do qual você goste muito. Agora, vamos anotar as sensações que esse lugar desperta, as cores que percebem, os sons e os cheiros que existem lá.

3. Vamos fazer comparações:

a) O rio é ________________ como _______________
b) O rio tem cheiro de __________________________
c) A cor do rio parece __________________________
d) A minha rua tem um barulho como _____________
e) Minha cidade até parece _____________________
f) No pátio da escola tem uma árvore que parece _____


4. Agora, vamos criar metáforas:
a) O rio _________________________________
b) Minha rua ____________________________
c) O céu de minha cidade __________________
d) Minha cidade _________________________
e) A árvore da escola _____________________


OFICINA 10 – O LUGAR ONDE VIVO

• Estudar poemas sobre a terra natal de diferentes escritores;
• Resgatar sentimentos sobre o lugar onde os alunos vivem.

MILAGRE NO CORCOVADO
Ângela Leite de Castilho Souza

Todas as noites
de céu nublado
no Corcovado
faz seu milagre
o Redentor:
fica pousado
no algodão-doce
iluminado
como se fosse
de isopor.

Mas todos sabem
que bem de perto
esse Jesus
é um gigante
de mais de mil
e cem toneladas...
Suba de trem,
vá pela estrada,
quem chega lá,
ao pé do Cristo,
vira mosquito.

E olhando em volta
para a cidade
de ponta a ponta
maravilhosa
a gente sente
um arrepio:
o milagre
é o próprio Rio!

1. É interessante mostrar imagens do corcovado e perguntar de alguém da turma já esteve lá.

2. Qual o tema do poema?

3. Vamos observar as metáforas presentes no texto.



CIDADEZINHA – Mário Quintana

Cidadezinha cheia de graça...
Tão pequenina que até causa dó!
Com seus burricos a pastar na praça...
Sua igrejinha de uma torre só...

Nuvens que venham, nuvens e asas,
Não param nunca nem um segundo...
E fica a torre, sobre as velhas casas,
Fica cismando como é vasto o mundo!...

Eu que de longe venho perdido,
Sem pouso fixo (a triste sina!)
Ah, quem me dera ter lá nascido!

Lá toda a vida poder morar!
Cidadezinha... Tão pequenina
Que toda cabe num só olhar...


1. Qual é o tema do texto?

2. O poema nos faz lembrar de coisas alegres ou tristes?

3. Você consegue imaginar, “visualizar” a cidadezinha descrita por Quintana? É parecida ou muito diferente da nossa?

4. Vamos observar as comparações e as metáforas usadas nos dois textos.

5. Mário Quintana usa o recurso da rima para exprimir a simplicidade e o encanto da sua cidade. Além de usar rimas originais, ele se preocupou com o ritmo do poema. Já Ângela Leite de Castilho Souza não rima seus versos. Ela prefere outros recursos, como a comparação e a metáfora. No verso “fica pousado no algodão-doce” ela mostra sua visão do Cristo iluminado à noite, cercado pelas nuvens. Para a autora, é um milagre o gigante de muitas toneladas pousado no algodão-doce.

SÓ RELEMBRANDO...

O tema do poema que os alunos vão produzir é “O Lugar Onde Vivo”. Eles não devem repetir o tema no titulo. Devem criar um título original e sugestivo. Embora todos devam escrever sobre o mesmo tema, cada um poderá escolher um título diferente.


OFICINA 11 – UM NOVO OLHAR

• Propiciar um olhar novo e original sobre o lugar onde cada aluno vive.

A maioria dos poetas têm uma fonte em que buscam inspiração para compor seus poemas. Muitas vezes, essa fonte é o lugar onde vivem ou viveram. Manuel Bandeira, por exemplo, tem no Recife de sua infância um de seus temas preferidos. Da mesma forma, a vivência interiorana e a paisagem de Minas Gerais marcam a obra de Carlos Drummond de Andrade.

Os alunos-escritores devem se inspirar no lugar onde vivem. A fonte de inspiração não é só a cidade, mas também o bairro, a rua, as paisagens, os locais interessantes, seus moradores, a cultura e as peculiaridades. Ajude-os a buscar essa inspiração, resgatando impressões, sensações e sentimentos, de forma que encontrem um olhar pessoal e único sobre o lugar onde vivem.

O poema que será produzido não precisa falar sobre todos os aspectos da cidade, pois assim os versos podem ficar longos e desinteressantes. Por outro lado, deve revelar peculiaridades do lugar que podem encantar e conduzir o leitor ao mundo do poeta.

CONFIDÊNCIAS DO ITABIRANO
(Carlos Drummond de Andrade)

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas...

ALMA CABOCLA – Paulo Setúbal

E, na doçura que encerra
Esta simpleza daqui,
Viver de novo, na serra,
Entre as gentes desta terra,
A vida que eu já vivi...


TER O QUE DIZER

Buscar o que dizer num poema é muito diferente de buscar assunto para outros tipos de texto. Por exemplo, quando ensinamos nossos alunos a escrever um artigo de opinião, é preciso fazer uma pesquisa para a coleta de vários dados, mas no caso dos poemas, isso é bem diferente.

Fazer poesia não é organizar informações objetivas em forma de versos. O ofício do poeta não é descrever aquilo que vê, mas expressar sentimentos e vivências interiores. Do contrário, o poema pode perder seu encantamento e sua originalidade.

VAMOS CONVERSAR SOBRE NOSSO LUGAR...

... a cidade, o distrito, o bairro, as ruas, os espaços interessantes que impressionam de alguma forma. Bom mesmo seria fazer um passeio pela cidade.

O objetivo aqui não é coletar dados, é incentivar a observação de pequenos detalhes, perceber as impressões e as sensações causadas por essa observação:

a) O eles sentem?

b) Qual a cor predominante desse lugar?

c) Quais os ruídos do lugar onde vivem?

d) O sol, as nuvens, o calor, o frio... que sensações despertam?

e) Se você tivesse que descrever um desses lugares para pessoas que não os conhecem, como faria?

OBS.: Para escrever sobre o lugar onde vivemos, é preciso, antes de tudo, aprender a olhar esse lugar com olhos apaixonados. Tem que ser um olhar diferente daquele do dia a dia.

Veja essa estrofe de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa):

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e rios.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e flores.

a) O que o poeta quis dizer com esses versos?

b) Muitas vezes, olhamos as coisas com pressa ou de maneira superficial, ou ainda, com olhar de rotina. Assim, deixamos de ver todos os obstáculos, de observar coisas que estão ocultas à primeira vista.


OFICINA 12 – VIRANDO POETA

• Escrever um poema com o tema da Olimpíada: “O Lugar Onde Vivo.”

UM EXEMPLO

O MUNDO DENTRO DA REPRESA DO FRADE

A represa é presa
Presa com água
E feita de pedra, pesada
Com mil toneladas de água.

Lá embaixo os peixes:
Cascudo, cará, carapeba
Brincam de esconde-esconde
Se entocando nas pedras.

Desce a correnteza, correndo
Descansa na represa
E cai pelo caidor
Fazendo cócegas nas pedras.

A água de baixo
Temendo a água de cima
Faz onda para escapar
Fugindo para outro lugar

Sobre a estreita ponte
O danado do vento
Vem assustar a gente
Com seu sopro violento
As árvores nas beiras
Se seguram na areia
Temerosas
Não querem ser levadas
Pela força da correnteza

Da minha janela vejo esse
Mundo:
Um mundo dentro do outro
Preso nas muralhas da represa

(Texto de Carla Marinho Xavier, aluna da professora Maria Luiza Alves da Silva – vencedoras da edição 2006 do Programa Escrevendo o Futuro.)

Agora, vamos a produção do poema que irá participar da Segunda Olimpíadas de Língua Portuguesa. Cada aluno deve exprimir no texto a visão pessoal e original do lugar onde vive.

1) Para mostrar impressões e sentimentos, devem usar as palavras de forma diferente. Os recursos poéticos estudados nas oficinas devem ser utilizados..

2) O tema proposto é “O Lugar Onde Vivo”. Pensando nesse tema, o aluno fará seu primeiro rascunho, deixando a emoção fluir e soltando a imaginação.

3) Para compor poemas, mesmo os poetas consagrados ficam muito tempo melhorando seus versos, arrumando, organizando, mexendo nas palavras. É preciso tempo, não só para fazer correções, mas para aprimorar o texto. É assim que os poetas deixam de lado o lugar-comum, rompem com os clichês e conseguem encantar o leitor com um texto original e criativo.

4) Agora vamos aprimorar os poemas que foram escritos:

a) O título do poema é criativo?

b) O texto tratou do tema, mostrando características e peculiaridades do lugar onde vivem?

c) O poema usa alguns dos recursos estudados nas oficinas: rima, quadra, aliteração, comparação, metáfora?

d) O poema tem um ritmo cadenciado?

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